Em um clima de tensão crescente e incertezas jurídicas, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro se reuniram nesta terça-feira (22) na sede do Partido Liberal (PL), em Brasília, para prestar solidariedade ao líder político que, segundo relatos, demonstra sinais visíveis de abatimento e inquietação. A visita, mais do que um gesto simbólico, escancarou o momento delicado vivido por Bolsonaro diante das decisões mais recentes do Supremo Tribunal Federal (STF).
Fontes próximas à reunião confidenciaram que encontraram o ex-presidente em um estado emocional comparável ao que foi observado logo após sua derrota nas eleições de 2022. Segundo esses interlocutores, Bolsonaro os recebeu com um semblante carregado, demonstrando perplexidade diante da série de medidas judiciais que têm se acumulado contra ele.
“Ele nos perguntou o que fez de tão grave, qual teria sido o crime cometido”, revelou um dos parlamentares presentes, sob condição de anonimato. A declaração dá o tom da confusão interna do ex-presidente, que parece ainda tentar compreender os desdobramentos do cerco judicial que se fecha ao seu redor.
Entre as decisões que mais impactaram Bolsonaro está a recente ordem que o impede de utilizar redes sociais — uma limitação pesada para quem, durante todo seu mandato, transformou plataformas como Twitter e Instagram em canais diretos com sua base de apoio. Para além da restrição digital, o ex-presidente foi obrigado, desde a última sexta-feira (18), a usar uma tornozeleira eletrônica. A medida faz parte do cumprimento de uma série de determinações do STF, que o investiga por envolvimento em tentativa de golpe de Estado e, mais recentemente, por possível obstrução das investigações.
Um dos aliados que esteve com Bolsonaro descreveu o ambiente como tenso e contido: “É uma situação muito complicada. Fomos lá prestar apoio, mas sinceramente, é difícil encontrar palavras. O presidente está visivelmente desconcertado”.
Decisão Crucial Pode Sair a Qualquer Momento
Enquanto isso, os olhos da equipe de defesa de Bolsonaro estão voltados para o gabinete do ministro Alexandre de Moraes, relator dos processos que envolvem o ex-presidente no Supremo Tribunal Federal. Moraes deve avaliar, possivelmente ainda nesta quarta-feira (23), as justificativas apresentadas pela defesa de Bolsonaro sobre o suposto descumprimento de medidas cautelares.
A expectativa é de que a decisão de Moraes defina se Bolsonaro poderá ou não continuar em liberdade, mesmo que monitorado. Caso o ministro entenda que houve violação das ordens judiciais, novas sanções podem ser impostas — inclusive a possibilidade de prisão preventiva, embora essa medida ainda seja vista como extrema por setores do próprio STF.
No entorno bolsonarista, o temor é evidente. Parlamentares e aliados próximos já articulam estratégias para blindar politicamente o ex-presidente, mas reconhecem, nos bastidores, que as margens de manobra estão cada vez mais estreitas. O silêncio público de Bolsonaro nos últimos dias — rompido apenas por comunicados formais emitidos por sua defesa — reforça a imagem de um líder acuado, que vê o avanço das investigações como um divisor de águas em sua trajetória política.
Impacto no Partido e nas Eleições de 2026
A crise que envolve Bolsonaro também tem repercussões imediatas dentro do PL. A legenda, que se preparava para usá-lo como cabo eleitoral em diversos estados nas eleições municipais de 2024 e, potencialmente, como candidato novamente à Presidência em 2026, agora enfrenta o desafio de manter a coesão interna em meio às incertezas jurídicas que pairam sobre seu principal nome.
Embora alguns líderes do partido insistam que Bolsonaro segue sendo “uma força incontestável da direita brasileira”, há quem admita que o desgaste pode ser irreversível caso as investigações evoluam para condenações definitivas.
Para os analistas políticos, o momento é de inflexão. “Bolsonaro enfrenta não apenas o peso de suas decisões passadas, mas também a dificuldade de construir um discurso de vitimização que mobilize sua base de maneira efetiva. O silêncio e a aparência de fragilidade não combinam com a imagem de força que ele sempre tentou projetar”, analisa um cientista político ouvido pela reportagem.
O Futuro Incerto de um Ex-Presidente em Xeque
Aos 70 anos e com um histórico de embates institucionais, Bolsonaro se vê, agora, cercado. A imagem do político combativo, que desafiava ministros do STF e fazia discursos inflamados, dá lugar a um homem recolhido, que busca apoio em aliados cada vez mais cautelosos.
O Brasil assiste, em tempo real, ao desenrolar de uma das mais delicadas crises políticas desde a redemocratização. Enquanto as próximas decisões judiciais se desenham no horizonte, uma pergunta ecoa nos corredores do poder: até onde irá o STF, e até onde resistirá Bolsonaro?
