Mesmo em prisão domiciliar, Bolsonaro articula visita de presidente da Câmara e tenta manter influência política
Brasília (DF) – Mesmo sob as restrições da prisão domiciliar, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) continua a se mover nos bastidores da política. Segundo revelou o deputado Luciano Zucco (PL-RS), líder da oposição na Câmara, Bolsonaro manifestou o desejo de receber uma visita do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB).
A articulação acontece em meio às investigações conduzidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) sobre uma possível tentativa de obstrução de Justiça e conspiração contra as instituições, que envolvem Bolsonaro, aliados próximos e seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). A prisão domiciliar do ex-presidente foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes no início de agosto.
Jogada estratégica para manter força no Congresso
De acordo com Zucco, que esteve pessoalmente com o ex-presidente, o encontro teve caráter “pessoal e político”. Bolsonaro teria destacado seu papel na eleição de Hugo Motta para o comando da Câmara, demonstrando que a relação entre os dois é estratégica para a oposição.
A possível visita de Motta — que ainda depende de autorização judicial — é vista como um gesto político significativo, em um momento de tensão crescente entre o Executivo, o Judiciário e o Legislativo.
Nos bastidores, a oposição articula a aprovação de pautas de interesse do bolsonarismo, como o projeto de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro e o fim do foro privilegiado. A visita também seria uma tentativa de distensionar a relação após recentes atritos entre parlamentares do PL e a presidência da Câmara.
Tensão nos bastidores e pressão internacional
Zucco relatou que Bolsonaro se mostrou abatido e com a saúde debilitada, mas permanece firme em sua convicção política. O ex-presidente também teria reforçado denúncias contra o STF, incluindo supostos monitoramentos de redes sociais e prisões com base em publicações.
Segundo o deputado, essas alegações estão sendo reunidas para envio a embaixadas internacionais, numa tentativa de levar o debate sobre as ações do Judiciário brasileiro ao cenário diplomático mundial.
Crise interna e risco de suspensão de parlamentares
O pedido de visita a Bolsonaro surge dias após parlamentares bolsonaristas ocuparem a cadeira da presidência da Câmara em protesto contra sua prisão. O ato provocou tensão com Hugo Motta, que ameaçou suspender os deputados envolvidos por até seis meses.
Ainda assim, o ex-presidente teria orientado aliados a manterem a cautela, evitando confrontos prolongados com o presidente da Câmara e priorizando o avanço de pautas legislativas.
Cenário de incertezas e polarização
Com a oposição em busca de espaço e o bolsonarismo tentando se rearticular, o atual cenário político brasileiro segue marcado por embates institucionais, estratégias nos bastidores e uma disputa direta por narrativas.
A eventual visita de Hugo Motta a Bolsonaro, caso autorizada, pode simbolizar mais do que um gesto de cortesia: seria o início de uma nova fase da articulação política da direita no Congresso, mesmo com seu principal líder sob vigilância judicial.
