Identificadas as duas irmãs que foram executadas a tiros em SC; possível motivação vem à tona

Execução de duas irmãs em Campos Novos expõe tragédia dos conflitos fundiários no Brasil
Uma tragédia de impacto brutal abalou o município de Campos Novos, no Meio-Oeste de Santa Catarina, na tarde da última sexta-feira (27). Duas irmãs idosas foram executadas a tiros em plena luz do dia, em meio a uma suposta disputa pela posse de um terreno. O crime ocorreu por volta das 15h, nas imediações de uma subestação da Celesc e da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), e escancarou a face mais violenta e silenciosa dos conflitos fundiários no Brasil.
As vítimas foram identificadas como Vera Beatriz Lopes, de 72 anos, e Vilma Albertina Andrade Lopes, de 71. De acordo com as investigações preliminares da Polícia Civil, as irmãs estariam no local questionando a realização de uma obra elétrica conduzida por uma equipe terceirizada. Segundo relataram, o terreno estaria em disputa judicial, e elas teriam tentado impedir o avanço da obra.
Execução a sangue frio
Testemunhas afirmam que, após uma breve discussão, três homens que haviam deixado o local retornaram armados e dispararam diversas vezes contra as duas mulheres, sem qualquer chance de defesa. Um trabalhador da obra também foi atingido na perna durante o ataque, mas sobreviveu.
A frieza e brutalidade da execução chocaram a população local. Os assassinos fugiram do local sem prestar socorro, deixando para trás os corpos das irmãs e o operário ferido.
Investigação em curso
O caso está sendo investigado pela Divisão de Investigação Criminal (DIC) de Campos Novos como duplo homicídio qualificado, com possibilidade de tentativa de homicídio em relação ao trabalhador atingido.
Segundo o delegado regional Adriano Almeida, a principal linha de investigação aponta para um conflito fundiário antigo relacionado à posse do terreno. “Sabíamos que havia uma disputa judicial, mas nada que indicasse a possibilidade de um desfecho tão covarde e violento”, declarou.
Até o momento, os suspeitos — homens com idades entre 30 e 70 anos — não foram localizados.
Vítimas engajadas e respeitadas na comunidade
As irmãs Vera e Vilma eram descritas por vizinhos e amigos como mulheres pacíficas, engajadas nas causas sociais da cidade e defensoras firmes de seus direitos. Suas mortes deixaram não apenas a família devastada, mas uma comunidade inteira mergulhada no luto e na perplexidade.
Os corpos das vítimas seguem sob custódia da Polícia Científica de Santa Catarina e, até o fechamento desta reportagem, ainda não haviam sido liberados para o velório — o que aumenta a dor dos familiares.
Conflitos por terra: um problema estrutural
O episódio reacende um debate urgente e negligenciado: os conflitos fundiários no Brasil, especialmente em regiões do interior, onde a regularização fundiária é precária e o sistema judiciário opera com lentidão. Nessas zonas de vazio institucional, o que deveria ser resolvido nos tribunais acaba sendo decidido na base da violência.
A execução das irmãs Lopes não é um caso isolado, mas o retrato cruel de um cenário onde a ausência do Estado permite que a força se sobreponha ao direito.
Reações e mobilizações
Entidades locais de direitos humanos, sindicatos rurais e movimentos sociais já começaram a organizar atos de solidariedade e protesto. O clamor é por justiça — mas também por ações concretas de prevenção, que incluam políticas públicas de mediação, celeridade judicial e presença efetiva do poder público em áreas de risco fundiário.
Reflexão final
Enquanto Campos Novos tenta encontrar consolo em meio ao luto e ao medo, o Brasil assiste a mais um caso em que o direito à vida é destruído por uma disputa que deveria ter sido resolvida na esfera da lei — e não na mira de uma arma.
Que a memória de Vera Beatriz e Vilma Albertina sirva como chamado à responsabilidade do Estado e alerta para a urgência de se proteger os mais vulneráveis em disputas que, se não forem mediadas com seriedade, podem terminar em tragédias evitáveis.