Cansado de ser invisível’: irmão de Eliza Samudio vem a público e faz revelações

“Cansado de ser invisível”: Irmão de Eliza Samudio quebra o silêncio e revela anos de dor e exclusão
Arlie Silva de Moura, irmão mais novo de Eliza Samudio, rompe o silêncio após 14 anos do assassinato que chocou o Brasil. Em entrevista exclusiva, ele narra como sua vida foi marcada pela dor, invisibilidade e rejeição — dentro e fora de casa.
Por Redação G1
Quase uma década e meia após o brutal assassinato de Eliza Samudio — caso que mobilizou o país e envolveu diretamente o goleiro Bruno Fernandes — o irmão mais novo da vítima decidiu contar sua versão da história. Aos 26 anos, Arlie Silva de Moura concedeu entrevista ao Campo Grande News e revelou como a tragédia que destruiu sua família em 2010 também silenciou sua própria existência.
“Todo mundo perguntava sobre a Eliza, mas ninguém nunca perguntou: ‘E o irmão dela?'” — disse Arlie, que na época do crime tinha apenas 11 anos. A frase resume o sentimento de quem, ao longo dos anos, viu sua dor ser ignorada diante da comoção nacional em torno do caso.
Hoje morando em São Paulo e trabalhando na área de atendimento ao cliente, Arlie se identifica como pessoa não binária e pansexual. Sua jornada de autoconhecimento, segundo relata, foi atravessada por conflitos familiares, tentativas de controle e episódios de preconceito dentro da própria casa. “Minha existência sempre foi colocada como algo secundário”, afirma.
A relação com a mãe, Sônia de Fátima, é descrita como ambígua: de um lado, o acolhimento em momentos difíceis; de outro, o peso da tentativa constante de moldar sua identidade. “Ela me ajudou, mas também tentou controlar como eu me visto, como me comporto. Nunca fui, de fato, aceito.”
Arlie também revelou que convive com o HIV desde 2020. O diagnóstico, embora difícil, foi encarado como mais um capítulo em sua luta por reconhecimento. “É mais uma parte da minha história que eu decidi não esconder. Não quero piedade. Quero respeito.”
Mais do que dividir vivências, ele deixa claro que sua decisão de falar publicamente não é um movimento de disputa com a memória da irmã — mas um pedido de escuta. “Não é sobre ocupar o lugar dela. É sobre mostrar que também existo, que também sofri e sigo tentando reconstruir minha vida.”
Segundo ele, assumir a própria história é uma forma de romper com o silêncio que o acompanhou por anos. “Cansado de ser invisível, resolvi contar minha história”, afirma.
O depoimento de Arlie vai além da esfera pessoal. É um chamado para que a sociedade olhe com mais empatia para os impactos psicológicos das tragédias familiares prolongadas — e para as múltiplas formas de exclusão que seguem invisíveis ao olhar público.
Ao compartilhar sua trajetória, Arlie transforma a dor em um poderoso manifesto por dignidade, acolhimento e visibilidade. Ele não busca os holofotes, mas um lugar legítimo na narrativa que, por muito tempo, o deixou de fora.