BRASIL DE LUTO: Morre querida cantora, ela estava assistindo TV e… Ver mais

Uma luz se apagou no coração da música regional do sul do Brasil. Mas seu som — doce, firme e inesquecível — ainda reverbera nas cordas da memória popular.
Era uma noite comum em Porto Alegre. A televisão ligada, a casa em silêncio, e no sofá, uma figura serena, envolta em lembranças de aplausos e melodias. Foi ali, entre as paredes que guardavam décadas de história, que Mary Terezinha, a eterna “Menina da Gaita”, partiu sem alarde. Aos 79 anos, deixou este mundo exatamente como viveu os últimos anos: em paz, discreta, mas com a grandeza de quem marcou gerações.
A notícia caiu como um trovão silencioso entre os fãs da música nativista. Quem foi pego de surpresa mal podia acreditar: a mulher que durante décadas emprestou sua voz, alma e acordeão para dar vida às tradições do sul do país, agora silenciava — mas apenas fisicamente.
Uma Parceria Imortal
Mary Terezinha não era apenas um nome; era um símbolo. Sua carreira se entrelaçou com a de outro ícone: Teixeirinha. Juntos, formaram uma das duplas mais influentes da música regional brasileira. Mais do que companheiros de palco, foram parceiros de vida — pais de dois filhos e protagonistas de uma jornada artística que extrapolou fronteiras.
Quando subiam ao palco, não havia dúvidas: algo mágico acontecia. A gaita de Mary falava, chorava, sorria. Sua presença era magnética, incomum para uma mulher em um cenário ainda dominado por homens. Sua autenticidade, ousadia e carisma a transformaram em referência para artistas que viriam depois. Ela não seguiu caminhos; abriu trilhas.
O Último Adeus
Segundo sua filha, Liane Teixeira, a artista faleceu em casa, enquanto assistia TV. “Ela partiu em paz”, revelou, com a voz embargada, mas serena. As causas da morte ainda não haviam sido oficialmente divulgadas até o fechamento desta reportagem, o que aumentou o clima de comoção e mistério em torno da despedida.
O velório de Mary Terezinha foi marcado para esta terça-feira (1º), na Capela Premium do Cemitério João XXIII, em Porto Alegre. Às 19h, familiares, amigos e admiradores se reúnem não apenas para se despedir, mas para celebrar uma vida inteiramente dedicada à arte e à cultura.
Muito Além da Música
A trajetória de Mary não se limita aos palcos e discos. Ela também brilhou nas telas de cinema. Ao lado de Teixeirinha, estrelou 12 filmes — títulos como Gaúcho de Passo Fundo e Coração de Luto marcaram época e eternizaram a dupla no imaginário popular. Eram obras que mesclavam drama, humor e a essência do povo gaúcho.
Mas o que poucos sabem é que, por trás da imagem firme da artista, havia uma mulher sensível, determinada e profundamente espiritual. Nos últimos anos, Mary dedicou-se à música gospel, revelando um lado íntimo e reflexivo, muitas vezes desconhecido até mesmo pelos fãs mais antigos. Era uma nova fase, um novo som — mas com a mesma entrega.
A Menina que Enfrentou o Tempo
Quando começou sua carreira, Mary Terezinha ousou fazer o que poucas mulheres faziam: tomar o centro do palco com uma gaita nos braços e a cabeça erguida. Enfrentou preconceitos, rompeu barreiras e fez história. Sua figura de vestido rodado e gaita nas mãos se tornou imagem icônica do folclore gaúcho.
Mesmo após a separação profissional e afetiva de Teixeirinha, seguiu firme. Compositora talentosa, continuou a criar, gravar e influenciar. Mary não era sombra de ninguém; era luz própria. Seu legado é um mosaico de canções, personagens e emoções que atravessam gerações.
O Eco da Eternidade
Na cultura gaúcha, Mary Terezinha será sempre mais do que uma artista. Ela é um símbolo de resistência, talento e paixão. Sua morte não encerra um ciclo, mas dá início a uma nova etapa: a da imortalidade artística. Porque lendas não morrem — apenas mudam de palco.
Enquanto os fãs se preparam para o último adeus, um sentimento se impõe: gratidão. Gratidão por cada acorde, cada cena, cada palavra. Mary partiu, mas a “Menina da Gaita” ainda caminha pelos campos do sul, embalada pelas melodias que ninguém jamais esquecerá.
E assim, o silêncio que ficou… também canta.
