Antes de sua morte, Preta Gil discutiu feio com Bolsonaro, tudo por q… Ver mais

A notícia da morte da cantora Preta Gil, confirmada na noite deste domingo (20), provocou uma onda de comoção nas redes sociais, onde fãs, amigos e artistas prestaram homenagens emocionadas à artista. No entanto, junto às manifestações de carinho, também emergiram lembranças de momentos marcantes de sua trajetória pública — entre eles, um episódio polêmico que envolveu diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), reacendendo debates sobre racismo, discurso de ódio e a resistência de figuras públicas frente à intolerância.
Filha de Gilberto Gil e uma das vozes mais autênticas da música e do ativismo social brasileiro, Preta Gil não apenas brilhou nos palcos, mas também se destacou como uma defensora aguerrida dos direitos humanos, das minorias e da diversidade. Em meio a uma carreira artística consolidada, ela também foi protagonista de embates políticos — e um deles marcou profundamente sua história.
Um episódio que ecoa até hoje
Em 2011, quando Jair Bolsonaro ainda era deputado federal, participou de uma entrevista no programa “CQC”, da TV Bandeirantes. Em um dos quadros da atração, chamado “O povo quer saber”, personalidades faziam perguntas ao então parlamentar. Preta Gil questionou: “Como o senhor reagiria se um de seus filhos namorasse uma mulher negra?”
A resposta foi chocante e repercutiu em todo o país. Bolsonaro respondeu:
“Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco, e meus filhos foram muito bem educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o teu.”
A declaração, considerada racista por diversos setores da sociedade, gerou revolta e levou Preta a tomar medidas legais. “Sou uma mulher negra, forte, e irei até o fim contra esse deputado racista, homofóbico, nojento”, escreveu ela na época em seu perfil no Twitter.
O caso teve desdobramentos judiciais que se estenderam por anos. Em 2019, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro condenou Bolsonaro por danos morais. Por três votos a um, a Sexta Câmara Cível decidiu manter a sentença que obrigava o ex-presidente a pagar R$ 150 mil ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (FDDD), gerido pelo Ministério da Justiça.
Legado de resistência
Mais do que um embate isolado, o episódio simbolizou a força de Preta Gil como figura pública disposta a confrontar o racismo estrutural no Brasil. Sua postura firme diante da agressão foi celebrada por movimentos sociais e por artistas que a viam como uma referência de representatividade.
Preta nunca se calou diante de ataques e usou sua visibilidade para amplificar vozes marginalizadas. Mulher negra, artista, bissexual assumida e ativista, ela rompeu padrões e enfrentou estigmas ao longo de toda sua trajetória. Sua atuação transcendeu os palcos e contribuiu para debates fundamentais sobre identidade, respeito e igualdade no país.
Ao longo dos anos, a cantora consolidou sua imagem como símbolo de empoderamento. “Sempre existi fora dos padrões”, dizia em entrevistas. Essa autenticidade inspirou uma geração de jovens a se reconhecerem em sua coragem e a também lutarem por espaço e respeito.
Reações após a morte
Com o anúncio de sua morte, a internet foi inundada por mensagens de pesar. Figuras públicas, políticos, influenciadores e artistas prestaram homenagens e lembraram o legado da artista — não apenas musical, mas social e político.
Nas redes sociais, internautas relembraram o confronto com Bolsonaro como um marco de resistência de Preta. A frase que ela escreveu em 2011 voltou a circular amplamente, acompanhada de palavras de admiração e reconhecimento. Para muitos, o episódio se tornou um símbolo do Brasil que resiste ao ódio e defende a pluralidade.
“Preta não foi só uma cantora. Foi uma mulher que encarou o racismo de frente, que usou sua dor para promover mudança”, escreveu uma seguidora. “Ela viveu com coragem. E partiu como um ícone de luta.”
Uma despedida com eco político
A morte de Preta Gil encerra uma jornada marcada por arte, emoção e posicionamento. Em um país ainda profundamente desigual, sua história serve de inspiração e alerta: o silêncio diante do preconceito também é uma forma de conivência.
Enquanto fãs se despedem da artista que embalou corações com sua música, o Brasil revisita um passado recente que ainda dói. O episódio com Bolsonaro — mais do que uma polêmica — agora ressurge como um lembrete da urgência de combater todas as formas de discriminação.
Preta Gil se foi, mas sua voz — firme, vibrante e necessária — permanece ecoando nos palcos da memória e nas trincheiras da luta por um país mais justo.
