Foi assim que Bolsonaro reagiu ao saber que Zambelli sua aliada tinha sido presa, ele ch… Ver mais

A recente prisão da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) em Roma, na Itália, reacendeu a já inflamada crise entre o núcleo bolsonarista e o Supremo Tribunal Federal (STF). Classificada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro como “perseguição” e “maldade”, a detenção da parlamentar foi recebida com indignação por aliados próximos, que veem na ação da Polícia Federal mais um capítulo de um suposto cerco político contra figuras da direita brasileira.
A fala de Bolsonaro, segundo o líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), foi feita em tom firme durante uma reunião no escritório político do ex-presidente, localizado na sede do PL em Brasília. Também presente, o deputado Hélio Lopes (PL-RJ) ouviu Bolsonaro reforçar que a prisão de Zambelli seria uma afronta à democracia e à liberdade de expressão.
A reunião ocorreu logo após Bolsonaro retornar de uma motociata pelas ruas da capital federal, evento simbólico com apoiadores que o ex-presidente ainda usa como demonstração de força popular. A notícia da prisão da deputada em solo italiano foi, segundo Sóstenes, recebida com “choque” e revolta no grupo.
A versão que divide versões
A narrativa bolsonarista, no entanto, contrasta com a versão oficial apresentada pela Polícia Federal brasileira e pelas autoridades italianas. A prisão de Carla Zambelli foi realizada em colaboração com o governo da Itália, após o deputado italiano Angelo Bonelli, do partido Europa Verde, entregar à polícia o paradeiro da parlamentar em Roma. Segundo Bonelli, a presença da deputada no país europeu violava o espírito das relações democráticas internacionais.
Zambelli, condenada pelo STF a 10 anos de prisão e à perda do mandato parlamentar, é acusada de envolvimento direto na invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ao lado do hacker Walter Delgatti Neto, também ligado à chamada “milícia digital” bolsonarista. A parlamentar foi considerada peça-chave em uma tentativa de desestabilizar o sistema judiciário por meio da manipulação de dados judiciais.
A fuga e a nacionalidade italiana
Condenada em definitivo, Zambelli fugiu do Brasil no início de junho, antes que o mandado de prisão pudesse ser executado. O destino escolhido não foi aleatório: a Itália, onde a deputada tem cidadania por descendência, dificultava a extradição devido a brechas legais em tratados bilaterais.
Mesmo com esforços do Ministério das Relações Exteriores e da Procuradoria-Geral da República, a extradição se arrastava sem sucesso, até que a localização da parlamentar foi oficialmente revelada e o cerco se fechou. A prisão em Roma é considerada uma vitória diplomática do governo brasileiro, que se moveu para provar à comunidade internacional que o Judiciário brasileiro atua com independência, mesmo em casos de alta voltagem política.
Reações no Congresso e nas redes
A prisão de Zambelli gerou um racha ainda mais profundo dentro do Congresso Nacional. Enquanto a oposição comemorou o cumprimento da decisão judicial, parlamentares aliados ao ex-presidente usaram tribunas e redes sociais para denunciar o que chamam de “criminalização da direita”.
“Não se trata de justiça, e sim de vingança. Estão usando a toga para perseguir quem pensa diferente”, afirmou o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente.
Por outro lado, parlamentares como Alessandro Molon (PSB-RJ) afirmaram que o cumprimento da sentença é “um sinal de que a democracia brasileira segue firme, mesmo diante de tentativas reiteradas de golpe e desinformação”.
O peso político para Bolsonaro
O caso Zambelli é mais um ponto de pressão para Jair Bolsonaro, que já enfrenta inquéritos no STF e foi declarado inelegível até 2030 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com sua base cada vez mais sob pressão — e agora com uma de suas principais aliadas atrás das grades —, Bolsonaro vê o cerco jurídico se aproximar.
Analistas políticos veem na reação do ex-presidente uma tentativa de manter sua narrativa de vitimização e mobilizar sua base com o discurso de que há um “estado de exceção” em curso. No entanto, o tom radicalizado pode não surtir o mesmo efeito de outros tempos, já que parte do eleitorado conservador começa a buscar alternativas mais moderadas para 2026.
Próximos passos
Com a prisão confirmada e o processo de extradição ainda em andamento, o governo brasileiro agora trabalha para garantir que Zambelli cumpra a pena no Brasil. Fontes do Itamaraty indicam que a cooperação com o governo italiano foi facilitada após o Ministério da Justiça garantir que os direitos da parlamentar seriam preservados, mesmo após sua condenação.
Enquanto isso, os bastidores políticos fervilham. A prisão de uma deputada federal em outro país não é apenas um fato jurídico: é um terremoto político que redefine alianças, acirra tensões e desenha o contorno de uma nova fase do bolsonarismo — agora, à sombra de um Judiciário que não recua.
